Esta rede visa a formalização de circuitos curtos de comercialização baseados em cadeias de proximidade entre os produtores e os consumidores, garantindo que tanto os requisitos de qualidade e segurança alimentar como o apoio técnico aos produtores (por exemplo através da organização, estruturação e capacitação dos mesmos).
A parceria inicial envolvia a DRAP Algarve, AMAL, DGADR e as 3 associações de desenvolvimento local do Algarve - Vicentina, In Loco e Terras do Baixo Guadiana - foi enriquecida com novas parcerias: a Universidade do Algarve e os municípios de Loulé, Lagos e Tavira.
Um pouco por todo Algarve, estão em curso vários projetos de apoio aos pequenos produtores agrícolas, mas sem interação entre si. Assim um dos objetivos é a organização desses projetos numa só plataforma, que seja ao mesmo tempo de divulgação e comercialização.
Em entrevista ao Jornal Barlavento, Artur Gregório, presidente da In Loco, refere que “a DRAP convidou-nos para fazermos parte desta parceria e como suporte deste projeto porque a valorização da produção local é algo que está na fundação e na base da In Loco, enquanto associação de desenvolvimento local. A valorização da produção local sempre foi uma das nossas estratégias fundamentais de intervenção e nas suas múltiplas frentes: no apoio à produção, no apoio à organização dos produtores, no apoio à distribuição, no apoio à comercialização, no apoio aos consumidores e no apoio ao consumo social. Nas múltiplas frentes de trabalho, temos iniciativas e atividades que convergem para esta estratégia. Por exemplo, o projeto de Desenvolvimento Local de Base Comunitária (DLBC) é uma abordagem líder que apoia produtores, os circuitos curtos, a pequena produção, os pequenos comerciantes. Temos diversos instrumentos de apoios financeiros e económicos mesmo para os pequenos produtores, que têm um papel importante nas zonas rurais e interiores. Temos projetos de trabalho em rede, de estimulação de circuitos curtos. Temos uma app, a Cá se Fazem e uma base de dados de produtores locais, mercados e cabazes, na plataforma Prato Certo. Temos também uma parceria muito boa com a Câmara Municipal de Loulé, onde estamos a ajudar neste trabalho de criar um sistema alimentar local. Temos ainda um projeto muito interessante, que está a começar este ano, com um patrocínio estrangeiro, não comunitário, o Local Food for Local People, que trabalha a capacitação dos intervenientes num sistema alimentar local, para que estejam preparados para o utilizar quando e onde for criado. Na futura rede de produtores locais do Algarve, o facto de podermos articular os nossos projetos com os da DRAP e com os de outras associações e entidades, dá-nos uma escala muito maior, entre zonas. Podemos criar hipóteses para que toda a alimentação dos nossos filhos, dos nossos idosos e dos nossos universitários seja fornecida por alimentos que são locais, da época, saudáveis, económicos e saborosos».
Artur Gregório sublinha que “o objetivo é criar uma espécie de plataforma em que várias entidades partilham o que estão a fazer e cooperem para criar uma alimentação mais equilibrada e mais sustentável” embora “o Estado, neste momento, já é um grande patrocinador de alimentação. As instituições particulares de solidariedade social, as escolas, as universidades, as empresas públicas, são sectores sociais em que a alimentação é suportada pelo Estado, mas que hoje está a ser fornecida por grandes distribuidores, grandes empresas nacionais e empresas de grande dimensão, não dando prioridade nem preferência aos produtores locais. Só com esta vertente já íamos conseguir viabilizar os pequenos produtores e agricultores!”
Neste momento, «a pequena produção, a produção local, a agricultura familiar que esteve em crise durante muito tempo e quase que desapareceu e que foi esmagada pela produção industrial intensiva, está a ter uma procura muito grande. As pessoas estão mais preocupadas com a sua alimentação, estão mais preocupadas com o consumo de proximidade e com as questões do impacto ambiental».
Ou seja, há «um conjunto de fatores que levam os consumidores mais educados e mais informados a preferir, cada vez mais, o consumo de proximidade. Isso está a estimular os pequenos produtores e produtoras para aumentarem a sua oferta, os seus canais de distribuição, começarem a usar plataformas, começarem a usar distribuição direta aos consumidores, começarem a trabalhar em conjunto para fornecerem alimentos de boa qualidade, alimentos locais, sazonais, autóctones e que sigam a lógica da Dieta Mediterrânica».
Questionado sobre os efeitos da pandemia, o presidente da In Loco refere que “Isto está-se a conjugar numa espécie de tempestade perfeita, mas positiva. Com esta procura de produtos de melhor qualidade alimentar e com a alimentação social, vamos conseguir viabilizar a pequena produção. Não é preciso mais nada para que a pequena produção em Portugal seja suportada e sustentada e que grande parte do nosso território volte a ser vivo, participado, produtivo e sustentável, apenas baseado neste consumo de proximidade e no consumo social».
Para mais informações leia:
https://barlavento.sapo.pt/algarve/rede-de-produtores-locais-do-algarve-vai-ser-realidade
https://www.avozdoalgarve.pt/d/rede-de-produtores-locais-do-algarve/43422
Ver mais notícias