Um estilo de vida milenar que integra um modelo alimentar saudável e sustentável.
A Dieta Mediterrânica (DM) tem a sua origem nos países que circundam o mar Mediterrânico ou que dele sofreram influências, como é o caso de Portugal. Foi construída e apreendida ao longo de séculos e representa um legado de diferentes culturas e civilizações. Os hábitos alimentares destes povos são o resultado de fatores climáticos e geográficos característicos desta região, que condicionaram a flora e fauna naturais, a agricultura e a pesca destas regiões. Podemos encontrar variantes da DM na Europa meridional, na zona ocidental da Ásia e na orla costeira do Norte de África. A par desta diversidade de costumes e hábitos, é possível identificar uma matriz alimentar comum que assenta na produção e no consumo de azeite.
O conceito de DM, tal como o conhecemos atualmente está ligado ao estudo “International Cooperative Study on the Epidemiology of Coronary Heart Disease”, desenvolvido pelo investigador Ancel Keys, na década de 50, do séc. XX. O qual, pôs em evidência taxas de mortalidade por doença cardiovascular mais baixas nos países do sul da Europa, tendo este resultados sido atribuídos ao elevado consumo de ácidos gordos monoinsaturados, presentes no azeite, em detrimento do consumo de ácidos gordos saturados.
A DM tem associado um modelo alimentar completo e equilibrado com inúmeros benefícios para a saúde e qualidade de vida destacando-se, o consumo abundante de produtos hortícolas, fruta, cereais pouco refinados, leguminosas secas e frescas, frutos secos e oleaginosos; de produtos frescos da região, pouco processados e sazonais; de azeite como principal fonte de gordura; o consumo frequente de pescado; o consumo baixo a moderado de lacticínios, de preferência queijo e iogurte e o consumo baixo e pouco frequente de carnes vermelha e de vinho, de preferência, às refeições.
Tem-se vindo a assistir ao abandono dos hábitos alimentares tradicionais nas sociedades mediterrânicas, ao desaparecimento dos valores e referências culturais e à globalização da disponibilidade alimentar e do consumo condicionada pela oferta de produtos alimentares industrialmente processados. Este fenómeno tem contribuído para a desvalorização do património cultural, das paisagens e dos produtos alimentares locais, o que tem, em maior ou menor escala, levado ao afastamento das raízes mediterrânicas, ao abandono e despovoamento das zonas rurais e ao crescimento desordenado de aglomerados urbanos. A promoção da alimentação mediterrânica como um modelo alimentar sustentável e protetor da biodiversidade, deve ser centrado numa perspetiva local tanto ao nível da produção como do consumo, fomentando uma oferta alimentar diversificada através da revitalização dos produtos locais, apostando na promoção do consumo e da comercialização destes produtos.
Autor: Maria Palma Mateus